quinta-feira, 8 de abril de 2010

“Doce Diabetes”

A doença crónica designa-se Diabetes Mellitus. O termo Diabetes provém do grego e significa “sifão”,”passar através de”, pretendendo aludir à grande quantidade de água que atravessa o corpo das pessoas com diabetes, em consequência da sintomatologia que lhe caracteriza: muita sede (polidipsia) e urinar frequentemente e em grande quantidade (poliúria). O termo Mellitus provém do latim e significa “doce”.

Inverti a ordem destes termos traduzidos em português, para transmitir como vivo e encaro a doença…não é uma catástrofe, nem mesmo um handicap na minha vida. Vivo com “ela” de uma forma pacífica,serena…

“Hoje é o 1º dia da minha nova vida”…

Assim me senti após aquela manhã de Sábado de Novembro de 2000 , quando decidi dirigir-me em jejum a uma Farmácia logo pela manhã bem cedinho para realizar um teste de glicemia capilar (medição do açúcar no sangue). O resultado? 420 mg/dl (quando o dito “normal” se encontra abaixo dos 110 mg/dl). Fiz de imediato o diagnóstico. E fi-lo instantaneamente, pois na altura estava no meu 3º ano do Curso de Enfermagem, e já possuía os conhecimentos suficientes para interpretar a minha sintomatologia: repentinamente uma sede insaciável,o urinar constantemente, uma fome tremenda e um emagrecimento súbito, num espaço de 2 meses.

Tinha Diabetes!

Estava acompanhada pela minha mãe, que não sabia o que queria dizer aquele valor…saí da farmácia e disse-lhe “Tenho Diabetes”…ficou em pânico, principalmente quando lhe falei de “injecções de insulina” diárias.

Desde logo encarei esta nova situação de uma forma que considero positiva. Não passei por nenhum daqueles estadios descritos pelos psicólogos como “crises” pessoais: depressão, angústia, isolamento social, raiva, apreensão, irritabilidade, frustração, pessimismo em relação ao futuro. Confesso que me senti um pouco assustada e ansiosa, mas estes sentimentos todos nós vivenciamos no dia-a-dia. Penso que adoptei de uma forma inata a minha estratégia de coping. Assumi a doença como “uma companheira para a vida toda”, com a qual tenho de conviver cada 24h.

Passaram-se mais de 9 anos desde o diagnóstico, com passagens por vários médicos Diabetologistas, tendo actualmente encontrado “aquele” que finalmente acabaria por me ajudar a atingir um bom controlo metabólico: a APDP (Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal). Faço referência a esta Associação propositadamente, pois sinto a necessidade de transmitir a todos, principalmente a pessoas com diabetes, o excelente trabalho que os seus profissionais desenvolvem diariamente. Mesmo residindo um pouco distante (Faro) faço questão de, no mínimo, 3 vezes por ano, me deslocar a Lisboa para a minha consulta de rotina. Recomendo a todos os diabéticos (aqueles que ainda não conseguiram atingir o melhor controlo da sua doença) que recorram a esta Associação. No meu dia-a-dia como Enfermeira, eu própria faço questão de contactar directamente com os seus profissionais quando me deparo com alguém que necessita realmente de outro tipo de ajuda, que não consegue encontrar nos cuidados de saúde primários ou diferenciados locais.

Falando agora como Enfermeira, queria aqui reportar-me à Formação de profissionais na área da Diabetes. Para além de exercer funções numa Unidade de Saúde Familiar, tenho realizado algumas formações para profissionais de saúde (nomeadamente Enfermeiros e Médicos) nesta área, tendo vindo a constatar (para além da minha prática profissional) que ainda há muito por aprender e por ensinar, mas acima de tudo, por MOTIVAR. Considero que a grande maioria dos nossos profissionais de saúde não se sentem motivados para “trabalhar” esta e nesta área…e garanto-vos que quando assim é, o doente percebe isso facilmente (aqui sou eu a “falar” como diabética).
Deveria perceber-se/interiorizar-se que actualmente a Diabetes é uma epidemia (ou até mesmo Pandemia), com um crescimento exponencial a nível Mundial, “…facto que leva a equacionar, pela primeira vez em duzentos anos, a possibilidade da diminuição da esperança de vida e, consequentemente pela sua morbilidade, a sustentabilidade financeira dos sistemas de saúde.” (Prevadiab, 2009). Assumindo esta realidade, devemos enfrentar e apostar nestes desafios da saúde com estratégias adequadas e direccionadas para a prevenção da diabetes, e prevenção das suas complicações, motivando em primeiro lugar os profissionais para, por fim, estes conseguirem dar o empowerment à pessoa diabética para atingir o melhor controlo metabólico possível e assim, uma melhor qualidade de vida.

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